O novo panorama do mercado de gás no Brasil
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O gás natural segue sendo um dos insumos mais estratégicos para a matriz energética brasileira. Seu uso vai desde a geração elétrica até aplicações industriais, comerciais e residenciais. Mas, apesar do potencial, o setor ainda enfrenta desafios para consolidar um ambiente competitivo, previsível e sustentável.
Nos últimos anos, o Brasil passou por mudanças regulatórias importantes, avanços na produção e novas discussões sobre o papel do gás na transição energética.
Gás natural, GLP e GNL: o que é importante saber
- Gás Natural (GN): fonte primária, extraída diretamente dos poços — no Brasil, em grande parte associada à produção de petróleo. Tem uso intenso na indústria, na geração elétrica e pode ser canalizado por meio de gasodutos.
- GLP (Gás Liquefeito de Petróleo): fonte secundária, obtida a partir do gás natural e do petróleo, amplamente usado em residências, distribuído principalmente em botijões.
- GNL (Gás Natural Liquefeito): gás resfriado a temperaturas muito baixas, o que permite seu transporte em navios e posterior regaseificação. Fundamental para viabilizar importações e exportações.
O Novo Marco Legal do Gás
Em 2021 foi sancionada a Lei nº 14.134/2021, conhecida como Novo Marco do Gás Natural, trazendo mudanças significativas:
- Regime de autorização (mais ágil que concessão tradicional) para transporte.
- Separação entre atividades de produção, transporte, distribuição e comercialização.
- Acesso de terceiros a gasodutos e instalações essenciais em condições transparentes.
- Regras de chamada pública para expansão de infraestrutura.
- Esforço de harmonização regulatória entre União e estados.
Produção e consumo: números recentes
Em junho de 2025, o Brasil atingiu 181,6 milhões de m³/dia de produção de gás natural, um recorde histórico.
Entretanto, mais de 53% dessa produção é reinjetada nos reservatórios, principalmente para manter a pressão na extração de petróleo.
O consumo médio em 2024 foi de 52,5 milhões de m³/dia, com destaque para o aumento do uso em usinas termelétricas (+22,9%).
Já a indústria registrou queda no consumo (-3,6%), em função do alto custo da molécula de gás.
Infraestrutura: o grande desafio
A expansão da malha de gasodutos e terminais de GNL é fundamental para:
- Interiorizar o uso do gás além do litoral.
- Garantir segurança de suprimento.
- Reduzir custos logísticos.
Embora alguns projetos estejam em andamento, a infraestrutura ainda é limitada e freia o crescimento da demanda.
O papel da Petrobras e os novos atores
Com a nova lei, a Petrobras deixou de ser a única protagonista da cadeia, abrindo espaço para novos produtores e comercializadores. Entre 2021 e 2024, o número de produtores subiu de 58 para 73 e já existem quase 20 comercializadoras ativas.
Ainda assim, a estatal segue relevante: em alguns meses responde por quase 90% da produção nacional.
Tendências e futuro do setor
- Biometano: integração crescente de um gás renovável produzido a partir de resíduos orgânicos.
- Hidrogênio: projetos em desenvolvimento podem integrar gás e descarbonização.
- Redução de emissões: diminuição do flaring (queima) e controle de emissões fugitivas.
- Novos investimentos privados: dependendo da estabilidade regulatória, a participação de empresas estrangeiras deve aumentar.
- Competitividade: reduzir custos logísticos será essencial para que o gás seja mais atrativo à indústria.
Conclusão
O mercado de gás no Brasil vive um momento de transição. O Novo Marco Legal trouxe bases mais modernas, mas sua implementação ainda demanda ajustes e avanços em infraestrutura.
Ao mesmo tempo, a expansão da produção no pré-sal, a maior participação do gás na geração elétrica e as discussões sobre biometano e hidrogênio mostram que o setor pode ter papel central na transição energética brasileira.
O desafio está em transformar potencial em realidade, com competição efetiva, preços competitivos e integração às políticas de sustentabilidade.
SOBRE O AUTOR

André Mansur Rocco é mestre em engenharia elétrica pela UFPR; atua na Ludfor na área comercial de Gestão de Energia para empresas; é perito judicial e extra judicial e dono do canal Power Traders do Brasil.